segunda-feira, 4 de maio de 2009

Caoticidade!

Que São Paulo é caótica, todo mundo já sabe... Mas quem disse que o caótico não pode ser bom?

Explico-me: sou de Sampa, sempre detestei morar lá (exceto pelas vezes em que eu aproveitava a cidade), e agora, que estou morando em Londrina, estou amando São Paulo! E antes que eu me contradiza, estou amando somente passear em Sampa, principalmente depois dessa Virada Cultural de ontem... Em que outro lugar você veria tamanha diversidade de pessoas, músicas, estilos de vida diferentes?? Lógico que eu sabia do potencial de (homo)diversidade (=diversidade humana, ta?) que Sampa tem, mas nessa Virada minhas expectativas se superaram, e quer saber? Foi a coisa mais legal do mundo ver um rockeiro das antigas levando seu filhote de rockeiro (=filho dele, vestido de colete de couro e tudo!) pra assistir o tributo ao Raul, ou um Negão-armário chorando que nem um bebê (mas de alegria!) com o Nasi cantando "Metamorfose Ambulante" nesse mesmo palco... Ou ainda vários pais/mães com seus filhos pequenos nos ombros para assistir Nação Zumbi no palco Rock, ou o show fantástico do Novos (Idosos) Baianos com ninguém menos que o Daniel Daiben na minha frente assistindo também... Fora um sem-número de camisetas criativas que vi o povo usando, todos os góticos-tudo-de-preto que vi sorrindo e se divertindo, todos os loucos que mais faziam parte do cenário que da platéia...
É dessa caoticidade que eu gosto! E, em homenagem a Sampa, deixo aqui uma música da banda mais paulistana que existe: Grupo Rumo! (ainda vou falar muito deles aqui, prometo!)
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Esboço - Rumo
(composição: Luiz Tatit)




Cara de palhaço
Pinta de boneco
Pula o tempo todo
Não dá nem uma parada
Parece até ligado
Na tomada
Todo emocionado
Com a própria brincadeira
Qualquer coisinha cai
Na choradeira

Uns dizem que é homem
Outros que é mulher
Dizem que é velho
Por isso pinta a cara
Pinta porque é moço
Pinta porque é velho
Pinta porque é macho
Pinta por capricho
Não é por nada disso
Não é homem, não é mulher
Ele é um bicho

E ele passeia, passeia
Passeia como se fosse um turista
E cumprimenta todo mundo
Que freqüenta a Bela Vista
E mesmo que ele esteja sem dinheiro
Dá uma passadinha nos botecos de Pinheiros
Chega com uma cara que dá pena
Mas é gente muito boa
Lá da Vila Madalena
Sempre sobra um copo de cerveja
Fica tão contente
Mas não quer que ninguém veja
Então procura o centro da cidade
Na Liberdade
Lá ele aparece algumas vezes
Lá os seus amigos são chineses
Canta umas canções em pot-pourri
E o pessoal morre de rir
E no fim da noite
Dá o último giro
No Bom Retiro

Meio delirante
Meio inconseqüente
Muito colorido
Um destaque na paisagem
É todo uma figura
Um personagem
Não adianta perder tempo
Desprezando a sua imagem
Pois nunca ele ligou
Pra essas bobagens

Corpo de moleque
Corpo de borracha
Todo amolecido
Dobra tudo
Nada racha
Dizem que é um esboço
Que é alguém de carne e osso
Dizem que é um colosso
Por dentro e por fora
É gente como a gente
A gente sente
Pois se aperta ele chora

E ele vagueia, vagueia
Vagueia como se fosse um cachorro
Avança, volta um pouco
Chegando até socorro
Lá ele não conhece muita gente
Então pega a Marginal, o Jóquei Clube
E segue em frente
Gosta de entrar um pouco na USP
Gosta de sentir que é estudante
Mesmo que não estude ele embroma
Com tanta perfeição
Que sempre sai com um diploma
E vem pra casa então todo feliz
Em Vila Beatriz
Tem os seus horários de paquera
Tem o seu lugar no Ibirapuera
Tem o seu amor em Santo Amaro
Que ele encontra pelo faro
E tem um gosto muito próprio
E muito raro

Balança a cabeça
Mexe o coração
Passa pela penha
Pela Lapa, pelo Brás
E já não sabe bem mais
O que faz
Todo envergonhado
Quando encontra uma criança
Perde o rebolado
Sempre dança

Tido como louco
Fala muito pouco
Pula, gesticula
Flexível, inquebrável
Vai ver que ele é amável
Vai ver, é provável
Vai ver que ele é uma fera
Vai ver que ele devora
Vai ver que cê chegando
Bem pertinho, dando um sopro
Ele evapora
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E quer saber por que Sampa é assim?? Eles respondem...

Fundação da Cidade - Rumo
(composição: Luiz Tatit)




Vinha assoviando, calmo na estrada
Quando chegou o meu amor
Chegou o meu amor!
Chegou! chegou! chegou!
Mudou de vez a minha vida
Não era sem tempo
Esperava este amor muito antes
Mas muito antes
Por que não chegou muito antes? perguntei
Meu amor não sabia, emudeceu

Fomos pra estrada, juntos, nós dois,
E nosso filho apareceu
Nosso filho apareceu!
Nasceu! nasceu! nasceu!
Nossa como foi rápido!
Nós distraídos na estrada e ele nascendo
Nascendo já!
Como é que nasceu nosso filho? perguntei
Meu amor não sabia, emudeceu

Enfim, três na estrada
Assoviando, assoviando
Um pouco de tédio
Mas muito otimistas
Cercados de algumas famílias
Uns bichos, uns carros, uns prédios
E um bruto de um scania vabis
Fechando a passagem
Mas um cara legal o motorista

Fomos andando, todos, na estrada
Já uns mil e trinta exatamente
Sem contar os marginais, artistas, palhaços
Viva! o circo tinha chegado
Armavam barracas e tendas na praça da sé
Em frente ao metrô
De onde surgiu este circo? perguntei
Meu amor não sabia mas assistia.

Muita buzina, trânsito na estrada
Um verdadeiro carnaval
Carnaval de automóveis, semáforos, de fábricas
Já sei!
E me veio a idéia na hora
Pedi para o meu filho
Tentar convencer o meu amor
Pelo menos tentar, não é
Porque não fundamos são paulo, sugeri
E meu amor, mais que depressa: tanto faz

Enfim, resolvido o problema,
Fundamos são paulo e agora
Todos assoviam a vontade
Chamamos os amigos de fora
De outros estados, países
E até o moço do scania vabis
Que, aliás, trouxe o próprio
Mas um cara legal!
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Aiai, enfim... Sampa's always on my heart! ;-)

Um comentário:

  1. Caoticidade = Caos de cidade
    São Paulo é feia, velha, cinza, fedida, nojenta, cheia, estressante...uma merda de cidade!
    Uma cidade Magnífica!!!!!! Isso mesmo, é um sentimento tão contraditório que se pode ter por São Paulo que beira a beleza do Barroco e suas contradições eruditas!

    Eu amo São Paulo! de coração!
    Penso seriamente se um dia eu deixaria essa cidade por alguma outra no Brasil...talvez só mesmo se um dia eu quiser sussego absoluto ou ficar velho, muito velho...

    Virada Cultural: 4 milhões de pessoas? sabe o que é essa mistura louca de ritmos, classes, tribos, raças, crenças, culturas, etnias, pessoas...sabe o que é isso? não, só mesmo estando lá para sentir...eu disse sentir, pq a gente nunca vai realmente saber o que é, mas a gente sente, e sentindo a gente gosta muito, a gente se satisfaz! Esse ar tão cinza e poluído de São Paulo, embora em muitos momentos chegue ao meu olfato como o perfume das mais doces flores perfumadas de um grande campo!

    Muito boa esa banda Gabi, eu não conhecia não!
    curti mesmo!

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